No mundo corporativo
Dentro de corporações grandes e pequenas, criatividade tem mais a ver com ideias úteis e solução de problemas da empresa, e acredito que este seja o termo chave aqui.
No mundo corporativo, criatividade é medida pela capacidade de solucionar problemas da empresa.
E aqui gostaria que vocês pensem um pouco sob o ponto de vista de uma organização.
Uma pessoa que tem ideias ao leo, que não são úteis à sua função ou a de outros, ou ainda que não são relevantes para o trabalho ou objetivos da empresa, etc, não apresenta grande vantagem. Certo?
Acredito que, em termos de criatividade [“a nível de” criatividade :))], no mundo corporativo existem duas categorias de trabalho: aqueles que tem que ser criativos e os que não tem que ser, que normalmente são funções burocráticas ou .
Você pode trabalhar de um lado, do outro, ou ainda dividir seu tempo entre as duas, alternando entre tarefas criativas e não criativas.
Entre os que têm a obrigação de ser criativos, encontramos [mas não nos limitamos a] designers [que surpresa, não?] e equipe de comunicação e marketing, arquitetos, equipe de P&D e desenvolvimento de produto, profissionais responsáveis por adequar produtos e serviços a novos ambientes e por resolver problemas em geral, inclusive administrativos e processuais.
E entre os que não trabalham diretamente com criatividade, normalmente encontramos pessoal responsável pela parte financeira e contábil, funcionários em tarefas mais simples ou manuais, como montadores, carregadores, faxineiros, mecânicos, e chão de fábrica em geral.
Ter uma função que não exija criatividade não significa que não se pode ser criativo ou que ninguém se beneficiaria disso. Estes funcionários simplesmente têm menos oportunidades, ou incentivo, de mostrá-la.
Note que todos os que necessitam de criatividade para desempenhar seu trabalho estão, de uma forma ou de outra, solucionando problemas. [Aqui usamos a palavra problema de forma mais abrangente, link]. Este problema pode ser um título para um release, a decoração da festa de fim de ano ou encontrar a melhor forma de como chegar a algum resultado esperado.
Criatividade e inovação
O mercado atual exige que todas as corporações sejam criativas para superar os principais desafios do dia a dia: atingir metas, aumentar vendas, lucro e/ou faturamento. Fazer mais com menos, enquanto melhora a imagem da marca. Tudo isso sem deixar de ser uma empresa sócio-ambientalmente sustentável e correta.
Sem perder o charme e a beleza.
E qual a palavra da moda para isso?
Inovação
E criatividade aliada à inovação é fundamental para a saúde empresarial hoje em dia.
Como estimular a inovação e criatividade no mundo corporativo?
Inovação corporativa não é minha praia, mas eu sei que, ao elevarmos o nível criativo geral de uma corporação e propiciarmos as condições para as ideias surgirem e se desenvolverem, as mudanças aparecerão naturalmente.
Acredito que a organização tem muito a ganhar se focarmos em dois grupos específicos dentro de uma instituição:
1- Alta gerência
Se tiverem que escolher uma única pessoa para fazer um intensivo de pensamento criativo, comecem de cima.
Os superiores inspiram direta ou indiretamente o comportamento de seus colaboradores, do setor e da empresa.
Ao iniciar o processo de cima para baixo na escala hierárquica, criamos um efeito cascata:
Um diretor tem ideias, metas e objetivos inovadores;
Seus gerentes [independente de serem criativos ou não] devem abraçar as ideias e elaborar planos [inovadores ou não] para atingirem os objetivos estabelecidos;
Os funcionários deste gerente, por sua vez, precisam aceitar as ideias e fazerem as coisas acontecerem.
Além disso nos níveis mais altos é que ocorrem as principais decisões, as que mais impactam na corporação.
Notem que a cascata pode perder força ao se afastar da origem, na hierarquia, ou ao decorrer do processo, mas ainda assim existem pontos positivos:
Todos precisam se adaptar para seguir um novo ritmo e fluxo de ideias
Com o passar do tempo, aqueles que apenas aceitavam as ideias passam a ter esse tipo de fluxo criativo como algo normal, e posteriormente se tornam, eles mesmos, mais receptivos e criativos.
Se as ideias viessem de baixo e encontrassem superiores pouco abertos, as chances das inovações morrerem antes de sequer terem uma chance de existir seriam bem maiores.
Aproximadamente 60% dos CEOs entrevistados citou a criatividade como a característica de liderança mais importante.
Líderes criativos também são mais preparados para quebrar com o status quo da indústria, segmento e modelo de vendas, e são 81% mais propensos a classificar a inovação como uma “capacidade crucial”.
Atividades não criativas
Concomitantemente à criatividade em cascata, a criatividade pode ser disseminada também ao longo de toda a escala hierárquica, nas atividades usualmente consideradas como não criativas.
Isso facilitará a compreensão e a recepção dos objetivos inovadores vindos de cima e consequentes mudanças em tarefas e ambiente de trabalho.
A aceitação de mudanças pode ser um processo complicado, e essa nova mentalidade ajuda a preparar a pessoa e a torna mais flexível.
Ao focar nas atividades pouco criativas [que pode inclusive incluir cargos de gerência também], possibilitamos o surgimento de inovações ligadas a funções específicas e departamentos.
Estas inovações seriam sugeridas pelos próprios funcionários. Seriam aquelas mesmas ideias que em outra situação encontrariam superiores pouco abertos e que impediriam seu crescimento.
Melhorando o nível criativo nas organizações
Pois bem, quais seriam as indicações do Sérgio para melhorar o nível criativo dentro das organizações?
Antes de tudo, é preciso compreender que criatividade não brota em um ambiente rígido e sisudo.
É preciso haver certo espaço para ela crescer, tempo para o ócio e para a diversão. Adicione uma pitada de caos para dar liga e paixão para o tempero.
Além de tudo, uma conexão emocional com o trabalho com a empresa e com o consumidor é muito importante, pois a criatividade está intimamente ligada aos nossos sentimentos. Faz parte da nossa motivação em criar.
Tudo isso não quer dizer levar as coisas de forma leviana.
Uma empresa precisa de resultados para sobreviver, e um dos principais segredos está em encontrar o ponto de equilíbrio entre atender prazos apertados e ter tempo para criar, produtividade e ludicidade.
Como são as empresas hoje:
Os espaços físicos normalmente são baseados na visão taylorista de produtividade: Limpos, ordenados sem cores ou espaços para descanso.
A estrutura e os processos normalmente não são favoráveis. Duros, engessados.
A relação entre tentar e errar no mundo corporativo é desfavorável à criatividade.
Os funcionários devem trabalhar em suas baias/cubículos
Não há tempo para troca de ideias e informações
Também não há tempo para elaborar melhor as projetos e conceitos
Não existe prazo. Tudo é para agora.
Os ambientes são voltados para a eficiência e produtividade pensados de uma forma mais mecânica. Uma parcela de caos é necessária para a geração de ideias.
Alguns elementos são sabidamente favoráveis para o processo criativo.
Aceitação e recepção de ideias, conceitos, práticas novos e diferentes [tanto em âmbito profissional quanto pessoal]
Mudança de conceitos pessoais e profissionais
Mudança de ares [espaço físico]
Mudança de meio social [ciclo de amizades, conexões pessoais]
Novas referências [leitura, imagens e ideias]
Novos conhecimentos
Choque de ideias
Caos, confusão [moderados]
Dificuldades [moderados]
Pressão [moderada]
Erro
Questionamentos
Qualquer busca por estes elementos [não precisam se limitar a estes] tem potencial para melhorar o nível criativo e de aceitação de ideias em sua equipe.
Algumas notas e sugestões. Vamos nos manter no básico aqui:
A primeira coisa é que que haja iniciativa ou pelo menos a aceitação da alta gerência. [afinal, sem isso não vamos a lugar algum]
A empresa deve buscar por objetivos ambiciosos, únicos e que tenham valor para as pessoas
Conhecer a organização, sua estrutura, funcionamento, regras, cultura organizacional, clientes, fornecedores e parceiros é importante para a geração de ideias úteis.
Podem começar com pequenos projetos:
Sugiro montar equipes mistas: criativos e não criativos.
Haverá atrito, ainda mais durante a fase de adaptação.
Problemas de compatibilidade e aceitação de ideias entre criativos e não criativos
Realizar rodízio entre as equipes
Aumentar gradativamente o número e a complexidade dos projetos
Criação de um Banco de ideias e outro para referências
Propiciar um ambiente controlado e receptivo ao erro. “Portanto, Criatividade serve muito para explorarmos o desconhecido, e para isso precisamos ter em mente que frequentemente vamos errar. Tentar e errar faz parte do processo criativo e um dos pontos básicos para ampliarmos nosso potencial criativo é justamente reconsiderar nosso "medo" de errar, talvez transformando a palavra em ‘testar’”. [http://www.intelliwise.com/seminars/criativi.htm]
Apesar de tudo, pressão ajuda. Prazos, orçamentos e qualidade devem ser duramente cobrados.
Pessoalmente, o que já observei, é que muitos profissionais não sabem ser criativos, e quando tentam não são bem sucedidos. Pegam ideias prontas e não aceitam novas ideias.
Não aceitar novas ideias é um grande problema em toda corporação.
Na prática do designer
Na vida do designer, a criatividade é constante e necessária.
Mas provavelmente não tanto ou da forma que as outras pessoas imaginam.
Nós lidamos com situações em que são necessárias soluções muito específicas para algum problema apresentado. Não podemos fazer simplesmente o que temos vontade.
Mas mesmo sendo uma criação super direcionada, a criatividade ainda é um elemento essencial durante a criação de coisas novas.
Conceitos, formas, marcas, ilustrações, grafismos, materiais, cores e texturas. Muito do que um bom designer faz é novidade de uma forma ou de outra.
Cada situação tem inúmeras peculiaridades, que exigem que todos as variáveis sejam pensadas e satisfatoriamente adequadas em uma única solução.
Tal como várias outras profissões, incluindo-se aí as engenharias, tão famosas por serem cartesianas e sem criatividade, o designer busca por soluções: qual o melhor material para determinado produto, como adaptar um espaço sem alterar a estrutura da construção, como fazer isso tudo caber ali dentro, como transformar A em B, X em Y…
A grande diferença é que o designer habitualmente esgota todas as possibilidades, tentando tudo o que estiver a seu alcance: métodos consagrados, fazer igual a outros produtos, inventando algo novo ou qualquer variável dentro deste espectro.
Não raro um designer gera centenas de possíveis soluções para um único elemento do problema maior.
Tudo, claro sem deixar de lado a função, usabilidade, e estética do resultado final.
Como dizia Thomas Edison:
“Minhas invenções são fruto de 1% de inspiração e 99% de transpiração”
Para finalizar, tenho um questionamento que ainda não consegui responder:
Quando criativos sobem na escala hierárquica, tendem a trabalhar menos com criatividade, enquanto os não criativos ao subirem têm que tornar-se mais criativos?
Faz um certo sentido. Isso significa que níveis hierárquicos superiores tem um nível criativo mediano?
Não sei...
E você? Na sua opinião, quais funções ou tarefas são as mais e as menos criativas?
Outros textos da série "Da Criatividade à Prática"
[parte 1][parte 2][parte 3][parte 4][parte 5]