Sobre o Design. Parte II

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O que é o design na prática


Design é um termo já conhecido, mas que, como ferramenta empresarial, ainda não é devidamente compreendido nem respeitado, sendo frequentemente confundido com estética, desenho, decoração, ou aos olhos de algum transeunte mal informado, apenas despesa.

Mesmo havendo casos em que não deve ser tratado como uma prioridade, seja por ser de fato pouco eficiente ou mesmo desnecessário, a aplicação adequada do design, independente de qual seja, causa efeitos positivos, podendo chegar a ser até mesmo parte importante no sucesso de um produto ou empresa.


O design é um recurso único que objetiva solucionar problemas específicos ao combinar como nenhuma outra ferramenta empresarial técnica, criatividade e estética, ao mesmo tempo em que se mantém próxima do usuário, compreendendo suas necessidades e preferências.

Cabe aos designers projetar objetos funcionalmente adequados, com aplicação dos conhecimentos técnicos e da ergonomia. Entretanto, esses objetos também devem ter qualidades estéticas e simbólicas, para que sejam atraentes ao consumidor. O designer deve adequar a predominância de elementos racionais e emocionais a cada caso, de acordo com as necessidades específicas de cada projeto.” Camilo Belchior, Iphone: Objeto de desejo

Apesar da complexidade intrínseca à função, no dia-a-dia, o design é  mais procurado como uma ferramenta para dar forma às necessidades do cliente. E é assim que muitas vezes o projeto é abordado.

A solução necessária para projetos de design pode ocupar uma ou mais das áreas que citei no primeiro artigo: os meios físicos [objetos ou espaços tridimensionais], imagéticos [imagens] e das ideias [ideias, conceitos, métodos, soluções, etc], sendo muito comum que seja uma mistura, em diferentes graus, das três.

Um produto, uma embalagem, um ambiente, uma marca, um site, peça de comunicação, livro ou qualquer outro tipo de solução que o cliente necessite. Praticamente todas combinam meios físicos, imagéticos e ideias.

Metodologia


Para todas as áreas de atuação do design e seus diferentes tipos de projeto, a parte metodológica é, a grosso modo, sempre a mesma:

  1. Identificação de problema;
  2. pesquisa;
  3. geração de alternativas;
  4. seleção;
  5. execução.

Salvo algumas exceções, toda solução de design vai passar por estas etapas, e nesta mesma ordem.

Uma boa metodologia é uma sucessão de divergência e convergência. Existem casos em que alguma adaptação será necessária, mas a ideia continua a mesma.

Na divergência são geradas múltiplas alternativas, na convergência, busca-se a escolha de uma única solução.

Pessoalmente acredito que a chave para tudo está na divergência, e que a convergência não é nada mais do que utilizar a divergência de forma específica, de maneira que ao fim do processo termine-se com uma única e segura alternativa.

O ideal é que cada elemento [pelo menos os mais importantes em um projeto] passem por esse processo.


Vamos ao exemplo:

Para criar uma luminária, um designer pode iniciar desenhando seu formato geral. Para chegar a um resultado satisfatório, ele faz então cinquenta alternativas completamente diferentes umas das outras, e escolhe uma que mais de adequa as necessidades do projeto.

Formato razoavelmente definido, abre-se novamente um pequeno leque para elaborar melhor o formato. São desenhados então mais cinquenta alternativas muito próximas umas das outras, todas baseadas no desenho escolhido na etapa anterior.

Escolhido o formato definitivo, cria mais cinquenta alternativas para a base, depois mais cinquenta para a boquilha, outras tantas para o tamanho, cor, interruptor…..


Vocês entenderam a ideia, certo?

Eu fiquei em cinquenta alternativas, mas esse número é beeeem elástico. Alguns fatores ajudam a definir esta quantidade, como  prazo, recursos, as possibilidades ou outras circunstâncias do projeto, mas via de regra, quanto mais opções forem geradas, melhor será a qualidade do produto final.

Voltando um pouco para a realidade das pessoas comuns, o que muitas vezes acontece é que uma ou outra etapa pode ser engolida na correria do dia-a-dia. Isso absolutamente significa que ela não tenha existido.

Mesmo sendo apenas a primeira opção foi desenhada, antes de sequer de por no papel, o bom designer já tinha pensado em outras dez.


E qual o significado disso tudo?


Vamos pegar um exemplo no DESIGN GRÁFICO [só porque é mais fácil para mim].

Segundo Kopp [Kopp, Rudinei, Design gráfico Cambiante], a atividade do design gráfico, materialmente, une: tipografia, fotografia, ilustração, arte-final, superfícies de impressão ou fixação da informação, tratamento de imagens, processos industriais de impressão gráfica, entre outros.

Sob o aspecto projetual e de concepção visual das peças [produtos do design gráfico], o designer deve ter em mente: o público ao qual se dirige, possibilidades financeiras, limitações de tempo para execução do material, tecnologia disponível, objetivos da empresa/marca/instituição contratante, identidade visual, qualificação profissional do pessoal envolvido, padrões de qualidade exigidos, que são agregados ao material gráfico.” Rudinei Kopp, Design gráfico Cambiante.

Ou seja. Ao sentir a necessidade de fazer um catálogo, o cliente contrata um designer gráfico.

Este, por sua vez, inicia o processo recolhendo toda a informação necessária, depois confirma se o que ele precisa realmente é um catálogo, procura referências anteriores [da mesma empresa/produto], cria um perfil para o público alvo e então parte para a conceituação e geração de alternativas.

Esta é a etapa criativa. É exatamente o que eu descrevi logo ali em cima.

Nesta etapa é que normalmente acontece a aprovação do cliente. É criado um modelo ou um protótipo com todos os elementos que já foram definidos, e é simulada uma situação de uso, de forma que fique fácil para o cliente visualizar e entender o que foi feito.

Depois de definidos e aprovados todos os componentes e subcomponentes de uma peça. Parte-se para a execução. A parte braçal do negócio.

Aqui a gente faz o projeto acontecer. O que acontece aqui varia muito de área para área, mas consiste em incluir algum conteúdo ao modelo [web design, editorial, comunicação, etc], especificar medidas [produtos, ambientes, impressos…], e produzir [fazer um molde, iniciar a montagem, imprimir, iniciar a reforma de uma sala, implementar o código, etc].


Normalmente, grande parte da execução é realizada por terceiros, mas é importante o acompanhamento de um profissional envolvido no projeto durante a execução para prevenir e/ou corrigir eventuais problemas o mais rápido possível.


Finalmente o projeto pode ser entregue. O processo é longo e varia muito de projeto para projeto, mas em geral segue este escopo. Mas é graças a isso que um projeto feito por bons profissionais geralmente são muito bem recebidos, tanto pelos consumidores quanto pelos clientes.



Semana que vem iremos discutir alguns problemas que os designers enfrentam

Até lá!


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Sobre o Design - Parte I


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Hoje em dia, muito se fala sobre o design.

Design é importante, design não é importante, isso é bem “design”, design moderno, design ergonômico, design isso, design aquilo….

Mas na verdade, em meus contatos com clientes, percebo que a maioria não entende a abrangência, efetividade e o retorno que o design proporciona.

Como o design é visto


Para o típico cliente, o design [principalmente o gráfico, não tenho certeza de como é com os outros] se resume a saber colocar no computador, e depois imprimir, as informações necessárias. E para piorar, alguns desses clientes sequer acreditam na capacidade dos profissionais, que assim são tratados como um mero intermediário entre o contratante, que dita o que e como deve ser feito, e o resultado final.

De forma geral acredito que isso também aconteça com outros tipos de ‘design’ por aí, pelo menos alguns deles, em diferentes graus ou situações..

Para os leigos, a atuação dos profissionais se limitam ao operacional. Um designer gráfico só desenha, não pensa em branding ou estratégia de comunicação, um web designer escreve html e não lida com a experiência do usuário, ou ainda um designer de ambientes que faz decoração, ou no máximo um projeto paisagístico, mas nunca é chamado para lidar com o fluxo de pessoas em um ambiente fabril.

Um indício disso é que todos nós já estamos cansados de ser confundidos com profissionais de informática.

Quem nunca recebeu pedidos para configurar o windows ou word de um cliente?

Em outras palavras, para estes clientes, designer é um cara que sabe mexer no computador. E não muito mais que isso.

Apesar de ainda ser verdadeira, esta imagem está mudando. Muito lentamente...

Mas espero que continue mudando.

Dentre os responsáveis pela mudança estão aqueles que acreditam, dão liberdade e investem no design. Muitos deles já sabem dos seus benefícios, outros estão experimentando e colhendo seus frutos. Comprovando por si as vantagens.


Este resultado positivo muitas vezes dissemina o “vírus do design”, que contamina os demais profissionais envolvidos, que presenciaram o trabalho e comprovaram por si suas qualidades e profissionalismo. Contamina as empresas concorrentes, que não podem ficar para trás e também precisam investir. Contamina também o próprio consumidor, que está mudando seu conceito de qualidade, agora que recebe um produto com maior valor agregado em termos tanto estéticos quanto funcionais, carregado de…


...adivinha…


Design!