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Problemas do design
Se perguntar a opinião de algum estudante de design [qualquer tipo], ele responderá que o design é lindo, que deveria ser matéria obrigatória em todas as escolas, que faz tudo ficar melhor e é a solução de todos os problemas da humanidade.
Mas infelizmente a gente vive em um mundo real, e nem tudo na vida são flores…
Nós, profissionais treinados, nos deparamos todos os dias com aplicações pouco eficientes, desnecessárias, forçadas, erradas, inapropriadas, excessivamente custosas, de baixo retorno, mal direcionadas [público errado], mal executadas [má qualidade], mal elaborada [conceitos e soluções fracos] e mal aplicadas [soluções ‘prontas’ aplicadas em outros projetos].
Na minha opinião, muitos casos em que o design não é bem sucedido são consequência da realidade em que se encontram. São muitas vezes reflexo da maneira como os designers recebem os problemas, da forma com que são direcionados às soluções e das condições próprias que têm para desenvolver seu trabalho.
Isso tudo porque de maneira geral, o design, e por consequência o profissional de design, são pouco valorizados.
Na prática – e digo baseado basicamente na minha experiência profissional e na experiência de profissionais próximos – o design é encarado como estética; arte final; execução ou simplesmente “pôr no papel a ideia de quem está contratando” [e exatamente da maneira que foi imaginada].
Em suma ele é tratado como uma ferramenta operacional para setores já melhor estabelecidos em uma empresa [como engenharia, publicidade e marketing], e subordinada a estes.
Acredito que esta desvalorização, se deve, em grande parte por causa alguns pontos*:
[Nesta lista provavelmente estarei puxando sardinha mais para o design GRÁFICO, mas acredito que possa servir para outros também]
- A facilidade com que as chamadas tarefas mecânicas [trabalhos pouco exigentes, mas que fazem parte da rotina dos profissionais de design] e os trabalhos rasos e pouco adequados podem ser feitos por qualquer pessoa com um mínimo de instrução. Basta ter um computador com os devidos softwares e um pouco de paciência para aprender;
- Esta facilidade possibilita a entrada de profissionais não qualificados no meio. Esses profissionais se limitam a realizar somente as tarefas simplórias, em um nível raso, e nada além. Essa limitação difundida cria uma noção errônea de que este é o nível de trabalho normalmente realizado por todos os designers, inclusive pelos mais gabaritados;
- Falta de compreensão da diferença entre o trabalho de design e áreas análogas, como a publicidade, arquitetura ou engenharia. Se para o cliente há uma má delimitação entre as áreas, ele não saberá qual o profissional mais adequado para determinado projeto, e por ignorância acaba recorrendo aos mais tradicionais;
- A diferença de valores assusta os mal avisados. Um bom design não é caro, já que muitas vezes se paga. Mas um design mal feito, independente de quem o faz [e várias agências famosas reduzem a qualidade do serviço para baixar o preço] é normalmente mais barato, e isso sempre atrai clientes;
- A falsa ideia de que Design é para grandes empresas ou para gente rica. Acredito que este conceito seja uma combinação do ponto anterior [o custo] com a imagem de design ser uma coisa sempre arrojada, que não combina com a linguagem popular. Gente, põe na cabeça que um bom design é o que ele for preciso ser. Arrojado ou popular, grande ou pequeno, colorido com bolinhas brancas, amarelo, azul ou até uma tela em branco.
- Por trazer vantagens muitas vezes imateriais, indiretas, difusas e que permeiam diferentes áreas da empresa, há uma grande dificuldade de medir o retorno financeiro de um bom design para comprovar que ele é investimento, e não apenas custo;
- Mais ainda, porque o dono do projeto não percebe a diferença entre o trabalho bem feito e o trabalho mal feito. Por hora pouco importa o motivo. Pode ser por falta de conhecimento de bons projetos ou porque está habituado com profissionais não qualificados [ponto 2, logo acima]. O importante é que ele não percebe a diferença entre alternativas boas e ruins.
Um bom design é o que ele for preciso ser.
Temos assim um sistema que se retroalimenta. Uma verdadeira bola de neve:
Os contratantes precisam do trabalho de um profissional da área. Os profissionais [seja por limitações de custo ou por incapacidade] se limitam a fazer o básico em trabalhos simplórios. Por não perceber a diferença de qualidade entre serviços de alta qualidade com os de baixa qualidade, o executivo acredita que aquilo é tudo o que se pode [ou que se precisa] fazer. Ao contratar novos profissionais, irá procurar aqueles capazes de continuar fazendo mais do mesmo, com a mesma qualidade. Este novo profissional, mesmo os devidamente formados e capazes, mais uma vez se mantém no básico, não desenvolvem novas capacidades nem exploram novas possibilidades. Se limitam a fazer o básico, qualquer coisa que sirva, que para quem os contratou está satisfatoriamente bom.
A este ciclo podemos ainda adicionar pequenas variações, como o contratante receber um trabalho de qualidade, mas como não percebeu retorno financeiro, da próxima vez irá investir menos. Pode também não haver um retorno financeiro por culpa de algum erro do projeto [afinal design não é uma matéria exata]. Existem casos em que o contratante não tem dinheiro para investir no início de seu negócio, procura um profissional mais barato e fica satisfeito com a qualidade do trabalho, e não procura melhorar futuramente. Temos ainda a presença de designers que são apenas bons em vender, mas não em executar o trabalho…
As variáveis são inúmeras.
Este processo é sim um grande problema, possivelmente o maior deles, mas com certo esforço pode ser quebrado.
Acredito que para mudar este cenário, devemos trabalhar em cima do último ponto da lista anterior e focar em quem contrata e em quem recebe os produtos.
Neste sentido falta o que chamamos de educação visual. As pessoas não têm discernimento entre projetos bons e ruins. E é em cima disso que precisamos trabalhar, divulgando nosso trabalho, mostrando bons exemplos, explicando o que e porque foi feito, comparando antes e depois, etc.
Ao educarmos ambos clientes e consumidores, estes passarão a exigir melhores entregas por parte de seus profissionais de design.
Consumidores exigentes, não se contentam com qualquer produto. Eles querem algo adequado às suas necessidades. Necessidades estéticas e funcionais. A era de ter que se adaptar aos seus produtos já não existe mais.
Este público demanda por projetos bem elaborados desde sua concepção até a execução. Eles querem produtos belos, ergonômicos e que funcionem melhor do que os anteriores. Querem entender tudo o que uma embalagem tem que dizer. Querem poder entrar em um site e encontrar informações relevantes para si de maneira fácil. Querem entrar em uma loja e sentir facilidade de circular, encontrar o que quer de maneira natural.
Empresas espertas devem responder a isso.
Ao procurar profissionais de design mais capazes, o executivo ganha a possibilidade de elevar o nível de qualidade de seus produtos, o que por si só já é bom. Destaca-se no mercado.
Mas ao compreender as capacidades e limitações do design, exigir melhores entregas, acreditar em seus profissionais, ser ousado e dar espaço para a criação ele passa a receber o máximo que o design tem para lhe oferecer.
Um trabalho bem elaborado e executado. Um produto que agrada aos usuários tanto em estética quanto em função. A qualidade, a facilidade, a novidade atraem, e o público retribui o investimento fazendo uso de seus serviços/produtos.
Esta atitude elevará em pelo menos um ponto o nível da discussão.
Provavelmente assim iniciaremos a divisão entre os trabalhos de qualidade e os “quebra galhos”.
No próximo texto quero criar polêmica ;]
Até semana que vem
Abraços!
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